15 de julho de 1987

Bom dia, Wind… 

Sabe, hoje será um dia bem diferente. Vamos falar daquilo que não queremos que ninguém saiba, para isso vamos começar com aniversários.... 

Parabéns pra você.

31 verões de sorrisos, alegrias e festas sem fim;

31 verões de mentiras, enganações e destruições;

31 verões de falsidades e conspirações…

Conspirações para trazer o melhor...

                        O pior

           de cárcere interior

Cárcere este que repreende, 

      que esconde,

        que se fez presente.  

Festas, presente... Tudo ilusão.

Amigos, familiares..  Seres de ilusão. 

Casa, lar, nunca encontrei onde está 

Me falaram que devemos comemorar;

Me falaram que precisamos presentear; 

Me falaram que com os amigos temos que estar.

Mas quem está lá? 

Quem está do lado de lá? 

Das velas, do bolo, das alegrias e da comemoração… 

Não me vejo conseguir comemorar;

Não me vejo conseguir presentes  ganhar;

Não me vejo, conseguir com as pessoas estar

Vejo uma sombra, vejo uma ilusão. 

Vejo uma mentira sem nenhuma noção 

Vejo um mundo sem luz, sem fé… perdido em mim

“Mim” que nunca gostou de comemorar;

“Mim” que não gostou de presentes ganhar;

“Mim” que nunca entendeu a razão de comemorar.

Por convenção cultural, fazer aniversário uma festa é; 

Por convenção cultural, temos que gostar...  Que comemorar;

Por convenção cultural, não podemos este dia odiar. 

Impressão que tenho, um espelho sem reflexo;

Impressão que tenho, uma imagem sem difuso; 

Impressão que tenho, uma mentira vivida.

Alegria, este é o dia 15 de julho de 1987;

Alegria, este é o momento de no mundo partir;

Alegria que não existe, só uma pequena ilusão que sempre escondi.

Escondi quem sou;

Escondi quem nasceu;

Escondi o meu sorrir.

Ass: Luan Jorge.

Bom, depois de falar sobre este dia, gostaria de explicar... 

Como posso comemorar o fruto da traição que o meu nascimento é? 

Como posso comemorar o fruto da desgraça e degradação que o meu nascimento é? 

“Como assim? ” Você me pergunta Wind. Bom, deixa eu te explicar: quando eu nasci, de certo modo minha mãe perdeu o esposo e ficou com duas crianças para criar (isso e claro sem me contar). Meu pai tornou o fruto das ações dele real. 

Não julgo nem minha mãe e nem meu pai.

Afinal, o que não faltou foi gente tentando me matar… 

Pelos motivos errados. Pelas razões sem iguais. 

Uma mulher casada, que não poderia um caso ter debaixo do teto de sua própria família.... Uma tolice, uma babaquice, que fez mais mal do que bem. 

Criou alguém capaz de manipular, machucar e de ferir sem pensar. Não me arrependo pelas coisas, pelos corações e nem pelas loucuras que fiz...  Me arrependo de machucar corações doces, inocentes e de puras emoções.  

Remédios, ferro, dor e espancamentos, foram uma das poucas coisas que minha mãe sofreu, não digo pra sentir pena Wind, porque aquela mulher, minha mãe, é força sem fim. Ela aguentou o inferno para ter o filho dela, ela sofreu coisas que você nunca vai conseguir imaginar e nem pensar. 

Uma mulher que se negou, sentiu e sofreu todas aflições do seu filho por mais de 30 anos e ainda sente, às vezes nem sabe, o porquê está triste a chorar.

Meu pai tentou o mundo me dar educação, sabedoria, conhecimento, vida, mas o que eu mais precisava era somente um pouco das suas doces palavras de amor e carinho, são raras e que guardo todas em meu coração. 

Um homem que aprendeu tarde demais que palavras são melhores que ações, mas um grande pai, assim como a grande mãe. Wind, eu fui abençoado com pais maravilhosos, mas eles foram amaldiçoados com um filho problemático, quebrado e que trouxe caos e desgraça as suas vidas (essa é a minha e só minha visão do meu nascimento. Meu pai e minha mãe tem outros olhos), mas pra mim foi a partir deste dia aí que a roda desandou para os dois lados e se quebrou.  

Odeio sim o dia que nasci, porque vejo que, para quem me ama, foi um dia de desgraças sem fim. 

Odeio sim o fato de ganhar presentes... Saber que os olhares que davam pra mim era pior que repreensão é tolice cega.   

Uma criança, uma alma, um espírito que se contaminou com as babaquices do mundo pra se proteger.

Criou alguém capaz de manipular, machucar e de ferir sem pensar, não me arrependo pelas coisas, pelos corações e nem pelas loucuras que fiz.... Me arrependo de machucar corações doces, inocentes e de puras emoções.

Não consigo, contar nos dedos da mão todas as cicatrizes de brigas, conflitos e palavras ásperas que eu levei no corpo, na mente e no coração.

Dizem que sou desalmado, sem emoção, sem coração. 

Bom, para todos aqueles que pensam assim Wind eu só digo uma coisa: Vocês não me conhecem. 

Wind, eu enlouqueci ao escrever tudo até aqui, ao falar tudo o que se passa dentro deste coração silencioso e sutil.  

Que atropela as pessoas sem nem ver se elas ao menos ameaçam olhar torto, mas eu quis te dizer tudo isso até aqui para que você saiba que existe alguém aqui que ama, que se preocupa e que tenta ser o melhor.

Bom, eu precisava por pra fora porque odeio o dia 15 de julho de 1987 e todos os anos que esta data se repetiu. 

Por que somente assim consigo fazer deste dia um novo dia. 

Porque somente assim, consigo mudar o sentimento que tenho deste dia

Porque somente assim consigo deixar tudo o que eu guardei no fundo da alma para trás. 

Entenda Wind, estou despejando em teus bits todo esse ódio, mentiras, ilusões e destruições para que eu possa seguir mais leve. 

Para que eu consiga olhar para este espelho e mostre o Luan que se escondeu. 

Para que eu consiga deixar de ser um espectro do que sou.